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“A tendência é o crescimento da participação da química no PIB global. Não tem como ficar de fora”, ressalta pesquisador.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) reuniram nessa segunda-feira, 12 de junho, representantes da academia, do governo e da indústria para debater o sistema de fomento de P&D para inovação no setor químico. O evento foi realizado na sede da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), em São Paulo.

O seminário é parte de uma série de eventos que a ABC e a Embrapii vêm organizando para compreender os desafios da inovação para a indústria nacional e, em especial, para discutir o que é preciso fazer para otimizar os recursos em tempos de cortes orçamentários e trabalhar propostas de ações conjuntas entre centros de pesquisa e empresas.



Participantes do evento Academia-Empresa-Setor Químico: Sistema de Fomento de P&D para a Inovação no Setor Químico, realizado na sede da ABIQUIM em São Paulo.


“A inovação deriva de uma ciência de excelência e de objetivos claros”, observou o vice-presidente regional de São Paulo da ABC, Oswaldo Luiz Alves. O setor químico, segundo ele, tem um peso muito importante dentro da nossa economia, responsável por 10% do PIB industrial brasileiro.

Mas o setor, no entanto, ainda não é tão inovador quanto poderia no País, conforme comentou Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim. Apesar de alguns avanços nas últimas décadas, dentre os quais ele cita a criação do Instituto Senai de Inovação em Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, ainda há muito o que avançar. “Precisamos aumentar o poder da pesquisa. E para fazer pesquisa, é preciso recursos”, disse.

Figueiredo destacou o trabalho da Abiquim junto ao BNDES e a recriação da Frente Parlamentar da Química – Frente Parlamentar Mista pela Competitividade da Cadeia Produtiva do Setor Químico, Petroquímico e do Plástico –, em abril de 2015, ainda no governo Dilma Rousseff. O impeachment, segundo ele, atrapalhou um pouco os projetos em andamento, mas um estudo em particular foi concluído e, por meio dele, identificou-se 62 metas de logística para o setor químico.

Figueiredo conta que a Frente também vem realizando encontros com ministros e levado outras demandas do setor, como o uso de gás como matéria prima, e a recriação de um grupo executivo da Indústria Química. “O setor químico sabe o que tem que ser feito, e estamos tentando levar isso ao Congresso”, comentou.


Estratégia Nacional

O setor, conforme ressaltou o Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTIC, Jailson Bittencourt de Andrade, perpassa quase todos os temas da Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) 2016-2022, além de ter profunda relação com a maioria dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) da ONU para 2030.

Andrade observou que, devido às constantes trocas de ministros, a Encti foi prolongada de 2019 para 2022, para conseguir avançar em seus objetivos de promover o desenvolvimento sustentável e socialmente justo, elevar a produtividade nacional a partir da inovação e conseguir incorporar definitivamente a CT&I como Política de Estado do País. “Diante de um sistema completamente em crise, o setor químico pode ser um setor alavancador da economia”, pontuou.

Mas, para tanto, Andrade observa que a química deverá se preparar para esses desafios e repensar, especialmente a relação com as tecnologias e como ela vai interagir com essa nova transição industrial, cada vez mais automatizada e conectada, a chamada indústria 4.0.

Rafael Navarro, representante da Comissão de Tecnologia da Abiquim e gerente de inovação e conhecimento da Braskem, concorda que hoje a tendência mundial é as empresas caminharem para a indústria 4.0, mas no setor químico isso ainda é muito insípido no Brasil. “É preciso que haja uma intensificação de processo e produtividade”, disse. Segundo ele, a indústria 4.0 será um dos temas de destaque da do “Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação”, que acontece dentro do IUPAC 2017 – maior evento de química do mundo, que será realizado pela primeira vez na América do Sul, em julho, em São Paulo.

A Abiquim possui cerca de 30 comissões temáticas, que apresentam planos de trabalho anuais. Um exemplo é a Comissão de Tecnologia, cujos objetivos do plano de trabalho incluem monitorar e difundir fontes de fomento e inovação, promover maior integração entre universidade e empresa e promover o uso da tecnologia como fator estratégico. Outro trabalho da Comissão de Tecnologia da Abiquim, mais recente, é integrar suas associadas com as unidades Embrapii.


Relação universidade-empresa

Nesse sentido, Carlos Eduardo Pereira, diretor de operações da Embrapii, falou sobre a atuação da instituição para atender às demandas das empresas por inovação, fomentando a relação com o setor acadêmico. Segundo ele, a Embrapii atua no chamado vale da morte – o espaço entre o desenvolvimento de pesquisas básicas e a comercialização, onde a maioria das pesquisas morre por falta de investimentos ou estratégias antes de se tornarem produtos comercializáveis.

Criada em 2013 e em operação desde 2014, a Embrapii chega a 2017 com 34 unidades e polos, espalhados por todas as regiões do Brasil. No total, a organização já contabiliza 223 projetos, com um valor acumulado de R$334 milhões. Em 2016 eram 100 projetos. “Nossa curva é crescente, mesmo em tempos de crise”, ressaltou.

Desses projetos, Pereira conta que 22 são na área de competência química. Para o presidente da Embrapii, Jorge Guimarães, apesar do forte componente acadêmico e industrial, o setor químico é ainda mal representado na Embrapii. “É preciso que existam mais unidades para oferecer às indústrias mais oportunidades de inovação”, disse e acrescentou: “todas as unidades Embrapii têm um forte componente acadêmico. E isso dá um conforto para a indústria, por unir à grande capacidade de fazer projetos aplicados a experiência de trabalhar com empresas”.


Padiq

Outra iniciativa discutida no evento foi o Plano de Desenvolvimento e Inovação da Indústria Química (Padiq), ação do BNDES e da Finep que tem como objetivo fomentar projetos de desenvolvimento tecnológico na fabricação de produtos químicos, de preferência, em parceria com Institutos de Pesquisa. Felipe Pereira, gerente da área de insumos básicos do BNDES, e Rodrigo Secioso, gerente do Departamento de Saúde e Química, da Finep, contam que, apesar de não ter nenhum contrato assinado ainda, o Padiq, desde que foi lançado em 2015, já selecionou 27 planos, de todas as regiões do Brasil.

Conforme demonstraram, o investimento previsto inicialmente era de R$2,4 bilhões, mas sete programas foram descontinuados por serem considerados “muito ousados”. Dessa forma, o total previsto agora é de R$1,2 bilhões, em um horizonte de seis anos. O investimento imediato é R$360 milhões para os primeiros dois anos.

Segundo Pereira, os contratos ainda não foram assinados por conta dos trâmites burocráticos exigidos para o investimento nas empresas. “A formalização jurídica não é rápida, muitas vezes as empresas demoram muito para apresentar os documentos solicitados. Apenas três empresas, até agora, conseguiram apresentar todos os documentos”, disse, acrescentando que, por esse motivo, eles acabam tendo que relaxar alguns prazos.

Secioso comenta que a química foi uma das áreas mais impactadas com a crise e a preocupação é com a continuidade do programa. “O que a gente percebe é que temos que avaliar se é o momento de lançar mais um Padiq nesse cenário de crise”, disse.


Recursos humanos

Ao mesmo tempo em que as empresas precisam conhecer os caminhos e as falhas no processo de inovar, as instituições de pesquisa devem se aproximar mais do setor produtivo, ressaltou o vice-presidente da ABC, João Fernando. “Mas as instituições estão cada vez mais distantes do mercado”, disse.

O químico e professor da Unicamp, Fernando Galembeck, reiterou a necessidade da aproximação entre universidade e empresa, mas, isso deve ser feito com estratégia. “As agências estimulam projetos em áreas da moda, sem estratégia. Além disso, a avaliação muito presa ao índice h impede a preocupação com a relação universidade-empresa”, comentou.

Galembeck pondera que nas últimas três décadas houve um crescimento em todos os indicadores de qualidade de pesquisa no País, o que indica um desenvolvimento positivo. Ele ressalta, por exemplo, que quatro cursos de química brasileiros estão entre os 200 melhores do mundo. E boa parte dos pós-graduados na área vão para o setor industrial. “Mas a qualidade dos cursos ainda é muito variável, o que dificulta saber com que contingente podemos contar”, observou.

Ainda segundo ele, as perspectivas é que a química será cada vez mais um setor central na economia mundial. “Qualquer que seja o cenário, exigirá uma produção química vigorosa, aproveitamento de matérias-primas e energia a partir de fontes renováveis. Tudo muito dependente de processos e produtos químicos”, afirmou.

“A tendência é o crescimento da participação da química no PIB global. Não tem como ficar de fora. Precisamos de rumos e também de recursos”, concluiu.


Nota do Managing Editor: Esta matéria de autoria de Daniela Klebis, foi publicada no Jornal da Ciência de 13 de junho de 2017. A ilustração apresentada não consta da matéria original e foi introduzida pela editoria do Boletim.



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